Parasita
Para os tutores de cães ficarem em alerta
Pelotas é uma das cidades do mundo com maior número de registros de dioctofimatose, doença conhecida como o “verme gigante do rim”
Divulgação -
Pelotas é uma cidade agradável para muitas coisas boas. Infelizmente, para algumas nem tanto. O ambiente úmido, com ampla bacia hidrográfica e de temperaturas amenas em boa parte do ano se torna propício para a reprodução do Dioctophyme renale, um parasita conhecido como “verme gigante do rim” que habita, logicamente, o rim de mamíferos, mais comumente de cães. Ele tem esse nome porque pode chegar a um metro de comprimento. Cabe ressaltar ainda que não há contaminação cruzada, portanto não há motivo para temer a companhia dos bichinhos. O parasita adentra o corpo do infectado através do consumo de água não tratada ou de alimentos crus, especialmente peixes e rãs.
A doutoranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Pâmela Caye, fez sua residência em cirurgia, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), voltada ao tema, já que apenas de forma cirúrgica é possível remover o parasita causador da dioctofimatose. Ela explica que, junto com Pelotas, as regiões de La Plata, na Argentina, e Canoinhas, em Santa Catarina, também possuem este ambiente propício. Durante seu mestrado, ela identificou 99 casos, desde 2012, apenas em cães atendidos no Hospital Veterinário da UFPel. Pâmela estima que o número é ainda muito maior, considerando os casos sem identificação e os tratamentos em clínicas privadas.
Ela explica que o parasita vive em um ciclo indireto. Seu ovo é consumido por um hospedeiro intermediário, um anelídeo aquático chamado Lumbriculus variegatus. Depois, quando esse hospedeiro é consumido pelo cão ou gato (seja através da água ou indiretamente, através do consumo de peixes ou rãs), os ovos eclodem e o verme gigante do rim se instala no órgão (e, mais raramente, na cavidade abdominal) do indivíduo.
Professora da UFPel e doutora em Cirurgia Veterinária, a coordenadora do Projeto Dioctophyme renale em cães e gatos (PRODic), Josaine Cristina da Silva Rappeti começou a pesquisar o tema em 2008. Ela diz que a melhor saída para evitar as contaminações é justamente evitar o contato do animal com o ambiente livre. “Os cachorros não têm um hábito seletivo, vão tomar água na valeta e acabam se contaminando”, explica. A docente aponta que esta pode ser a razão, ainda, para a presença do verme ser menos frequente em gatos.
Como ainda não foi identificado um tratamento medicamentoso, a única saída é a remoção cirúrgica. Por isso, a professora alerta que é essencial fazer exames de imagens de ultrassom em animais adotados da rua, justamente para um diagnóstico cedo. Dessa maneira, pode não ser necessário remover o órgão inteiro. Ela diz que antigamente essa era a única saída, mas hoje já é possível recuperar o rim, dependendo do momento da identificação, e manter o animal com uma vida plena após isso.
Sintomas e diagnóstico
Pâmela explica que boa parte dos animais não possui sintomas específicos. Sangue ou vermelhidão na urina podem ser um indicativo. Inflamação também. Fraqueza e dores abdominais, bem como aumento dessa região, pode servir de alerta.
Embora a literatura antiga indicasse exames laboratoriais, já que o ovo do Dioctophyme é bem visível no microscópio, a professora Josaine ressalta que essa já não é a maneira mais indicada atualmente. Um dos motivos é que os machos não colocam ovos e, portanto, se o animal estiver infectado apenas com um macho, o exame será um falso negativo. Pode acontecer também da coleta de urina ocorrer em um momento em que as fêmeas não estejam ovulando. Dessa maneira, o exame de ultrassom abdominal é o mais indicado, pois existem registros do verme vivendo na cavidade abdominal dos animais. Ela explica que o verme, visto no exame de imagem, tem similaridade com um ‘cacho de uva’ (ver foto).
A conscientização do tutor, tanto para a prevenção quanto para o diagnóstico cedo, é fundamental. O medo de ser contaminado pelo próprio animal de estimação também é minimizado por Pâmela. “As pessoas ficam com medo, mas não há nenhum indício de que possa pegar”, define. Além disso, o registro em humanos é extremamente raro.
Alerta para Pelotas
A professora explica que já fez trabalhos de conscientização junto a comunidades de pescadores e moradores do Laranjal para explicar a importância de não alimentar cães com peixes crus, já que muitas vezes eles consomem larvas e acabam infectando os mamíferos que eventualmente se alimentam deles. O mesmo ocorre com rãs, que vivem em valetas, se alimentam da larva e, quando comidas cruas, podem infectar o cachorro.
Por ter muitos cães de rua em Pelotas, que se alimentam de caça e acabam bebendo água de fontes como poças, valetas, canais e rios, eles são mais propensos a esta infecção.
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